quarta-feira, 18 de novembro de 2009

SÃO JOSÉ




São José, o santo humilde carpinteiro de profissão, bastante citado no cancioneiro nordestino, é o santo padroeiro de maior número de homenagens recebidas. Perde apenas para Santo Antônio que é o titular. Foi esposo de Maria, mãe de Jesus Cristo, é considerado o padroeiro da igreja universal. A tradição cristã diz que José guardou a castidade antes e depois do casamento com Maria. Seu casamento com a Virgem Maria era festejado no dia 23 de janeiro, sendo porém, abolidas as festividades litúrgicas por instrução do papa João XXIII em 1961. Comenta-se que São José morreu em Nazaré, antes da vida pública de Jesus Cristo. Quem crê em São José tem o seu trabalho garantido e jamais lhe faltará o pão. É também considerado o protetor dos lares católicos.
Seu dia é comemorado em 19 de março, foi recomendado, assim como o seu ofício, à Igreja Latina pelos Papas Pio V, Urbano VII e Gregóreo X. É véspera do inverno no Brasil, pertence à cultura popular, sendo um dos pontos de referência para previsão do inverno. “Apela pra março / Que é o mês preferido / Do santo querido / Sinhô São José / Mais nada de chuva ?/ Tá tudo sem jeito / Lhe foge do peito / O resto da fé ... A Triste Partida - Patativa do Assaré”. Se chove no dia de São José, o inverno é certo. Se no dia de São José for seco, nublado, chuviscando ou molhado, dá ao agricultor elementos de cálculo na meteorologia tradicional. No Nordeste do Brasil é de costume plantar milho no dia de São José, para colher no dia de São João. “Eu prantei meu mio todo / No dia de São José / Se me ajuda a providência / Vamos ter mio a grané. Vou colhê pelos meus cálculos / Vinte espiga em cada pé / Pelos meus cálculos vou colhê / Vinte espiga em cada pé. Aí, São João / São João do carneirinho / Você é tão bonzinho / Fale lá com São José. Fale lá com São José / Peça pr’ele me ajudar / Peça pro mio dar /Vinte espiga em cada pé. São João do Carneirinho - Guio de Morais / Luiz Gonzaga”.
Devido a sua popularidade no Brasil é que existem centenas de paróquias, Hospitais, Escolas, Casas Comerciais, municípios brasileiros e até mesmo uma serra com o seu nome, que fica no município de Campo do Brito.
A festa de São José em Sergipe é realizada com grande entusiasmo na Serra de São José em Campo do Brito, cidade de Sergipe, que fica aproximadamente 60 km da capital. Há vários anos que a Serra de São José é visitada por devotos de toda redondeza, utilizando vários meios de transporte como: caminhões, ônibus, automóveis, animais ou até mesmo a pé. A homenagem ao santo é feita dia 19 de março com alvorada festiva, procissão com a presença de zabumbeiros, saindo da cidade com sua imagem indo para Serra de São José onde existe uma capela devota a ele.“Meu divino São José / Aqui estou em vossos pés / Dai-nos chuvas com abundância / Meu Jesus de Nazaré. Olha lá vai passando a procissão / Se arrastando que nem cobra pelo chão / As pessoas que nela vão passando / Acreditam nas coisas lá do Céu / As mulheres cantando tiram versos / E os homens escutando tiram o chapéu / Eles vivem penando aqui na Terra / Esperando o que Jesus prometeu ... Procissão - Gilberto Gil”. E a festa de São José continua durante todo dia que lhe é dedicado com missa, fogos de artifício e pagamentos de promessas.



José Augusto de Almeida
Professor da Universidade Federal de Sergipe
( Artigo publicado no Jornal da Cidade em 19/03/98 )

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Literatura de cordel e os poemas populares

A Literatura de Cordel começou a ser praticada no Nordeste no século XVII, mas sua origem provém de Portugal. Esse nome deve-se ao fato de que os folhetos ficavam expostos em um barbante ( cordel ) para sua comercialização. A de Literatura de Cordel sempre foi o jornal do homem sertanejo, no Nordeste do Brasil, até o aparecimento do rádio e da televisão. Esses folhetos são feito em papel de baixa qualidade e produzidos por poetas populares nordestinos, são lidos por pessoas humildes, sendo vendidos nas feiras livres e mercados, pendurados em um cordão ou postos em cima de caixotes. Os temas que são abordados nesses folhetos são diversos, como os valentes, os covardes, os preguiçosos, os vaqueiros, as lendas, os mitos nordestinos, as tragédias, as adivinhações e os personagens importantes de nossa história, bem como os textos contendo piadas.
Vários nomes se destacaram como cordelistas: O poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, um dos mais antigos que escreveu “A História do Boi Misterioso” e muitos outros cordéis que são publicados até hoje; Firmino Teixeira do Amaral, esse do Piauí que escreveu inúmeros cordéis, sendo o mais famoso “ A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum”; Manoel de Almeida Filho, um Paraibano que viveu muito tempo em Aracaju, também escreveu diversos livretos, sendo um dos mais famosos “Os Cabras de Lampião”; João Firmino Cabral, sergipano de Itabaiana, autor de vários folhetos de cordel como, “Profecia de Padre Cícero” e “A Coragem de um Vaqueiro em Defesa do Amor”.
Os poemas populares diferem da Literatura de Cordel nos seus temas e na quantidade de versos do texto. Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como “ Patativa do Assaré ” apesar de ser cordelista e autor de vários livretos, ficou conhecido como poeta social, pela autoria da “A Triste Partida”, logo depois transformado em música e gravado pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga, o qual deu vida ao maior poema social do Nordeste, propagando aos quatro ventos através de sua popularidade musical no qual se conta da miséria nua e crua de uma família de retirantes nordestinos para o Sul. Patativa, mesmo sem ter o primeiro grau completo, tem uma visão social incrível e seus poemas são estudados na Sorbone, na cadeira de Literatura Universal, sob a regência do professor Raymond Contel. Outro poeta famoso é o violeiro paraibano Pedro Bandeira, autor do livro “Luiz Gonzaga na Literatura de Cordel ”, formado em Direito e Letras Clássicas pela Faculdade de Crato-Ceará, autor de vários poemas e considerado o príncipe dos poetas pela imprensa nacional.
A Literatura de Cordel e os poemas populares são importantes, pois além de constituírem uma fonte de ensinamentos para o estudo da nossa língua, ainda mostra os problemas sócio-culturais com a maior naturalidade, pois não existe nela uma censura, ou seja, nessa literatura estão todos os sentimentos e alegrias da vida de nossa gente. É nessa escrita popular que está a verdadeira história da gente simples do Nordeste.
No Brasil, onde é comum o descaso com as raízes, principalmente quando se trata desse de linguagem popular, a Literatura de Cordel e os poemas populares ainda resistem com muita dificuldade, registrando a linguagem do matuto do sertão, vista como cultura inferior, por pessoas que desconhecem a beleza de seus versos autênticos.

(*) José Augusto de Almeida
Professor da Universidade Federal de Sergipe
( artigo publicado no Jornal da Cidade em 10/07/1995 )